Summers x Lutzenberger

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Correspondências

Tese da Poluição transferida para o Terceiro Mundo

O Memorando

Lawrence Summers, economista-chefe do Banco Mundial, em 12 de dezembro passado (1991), enviou um memorando a alguns colegas. Eis alguns trechos do documento, publicado por The Economist, na edição de 6 de fevereiro:

Cá entre nós, não deveria o Banco Mundial estar encorajando mais migração das indústrias poluidoras para os países menos desenvolvidos ? Três razões vêm-me ao espírito:

1) A medição dos custos da poluição prejudicial à saúde depende dos ganhos auferidos com uma maior mortalidade. Levando-se em conta esse ponto de vista, uma determinada quantidade de poluição prejudicial à saúde deveria ser gerada no país com os menores salários. Eu penso que a lógica econômica por trás do despejo de um carregamento tóxico no país de menores salários é impecável e deveríamos levá-la em conta.

2) Os custos da poluição deverão ser não-lineares, já que os acréscimos iniciais de despesas com a poluição provavelmente têm um custo muito baixo. Sempre achei que os países subpovoados da África eram extremamente ´subpoluídos´; a qualidade do ar é provavelmente amplamente ineficiente baixa comparada com Los Angeles ou com a Cidade do México. Apenas os lamentáveis fatos de que tanta poluição é gerada por indústrias não-deslocáveis  (transportes, geração de eletricidade) e que os custos de transporte por unidade dos detritos sólidos sejam tão caros impedem um comércio de poluição atmosférica e lixo aumentando o bem-estar mundial.

3) A demanda por um meio ambiente limpo por razões estéticas e de saúde provavelmente terá uma grande elasticidade de ganhos. A preocupação com um agente poluidor que causa alteração de um em um milhão de probabilidades de um câncer da próstata do que em um país onde a mortalidade das crianças de até 5 anos é de duzentas por mil. Além disso, uma grande parte das preocupações com as emissões de poluentes industriais é com as partículas que dificultam a visibilidade. Essas partículas podem ter um impacto direto sobre a saúde muito pequeno. É claro que o comércio com bens que corporificam as preocupações com a poluição estética pode ser favorável ao bem-estar. Enquanto a produção é deslocável, o consumo de ar puro não é comercializável.

O problema com os argumentos contrários a todas essas propostas de mais poluição nos países menos desenvolvidos (direitos intrínsecos a certos bens, razões morais, preocupações sociais, falta de mercados adequados, etc) poderia ser invertido e usado com maior ou menor eficiência contra qualquer proposta do Banco Mundial de concessão (de verbas)”.

Lutzenberger manifesta-se

De posse de todo o documento de Summers, após ser divulgado na imprensa americana, José Lutzenberger, Secretário do Meio Ambiente brasileiro, remeteu a seguinte correspondência ao Economista-Chefe do Banco Mundial:

“It was almost a pleasant surprise to me to read reports in our  papers and then receive copy of your memorandum suporting the export of pollution tu Third World Countries and the arguments you present for justifyng it. Your reasoning is perfectly logical but totally insane. It underlines what I just wrote in a chapter on the absurdity of much of whaat goes for ´economic thinking´ today as part of a book that will be presented at the RIO-92 Conference. Your thoughts will be quoted in full in the book, as a concrete example of the unbellevable alienation, reductionist thinking, social ruthlessness and the arrogant ignorance of many conventional ´economists´ concerning the nature of the world we live in.

If it came from some insgnificant teacher in a third grade school in the backwoods it might be laughable, but coming from a Harvard professor and a man in your position it is an insult to thinking people all over the World. If the World Bank keeps you as vice presidente it will lose all credibility. To me it would confirm what I often said as an environmentalist, years ago, fighting ecologically devastating and socially disruptive World Bank ´development projects´, namely that the best thing that could happen would be for the Bank to desappear.´

(ass). José Lutzenberger

A resposta de Lawrence Summers, em 13 de fevereiro

“Dear Mr. Lutzenberger:

Your recent note to me expresses understandable outrage at the contents of my now infamous memo on toxic wastes.

As I have tried make clear in the past few days, this memo can only be fully understood in the context of internal discussions held here on a draft of our forthcoming Global Economic Prospects paper. To sharpen the analysis and clarify a rather vaghe internal discussion, this note took as narrow-minded an economic perspective as possible. Outside this context, you and other readers can and have misunderstood the memo´s intent.

Let me be very clear! The memo does not represent my view, the World Bank´s view, or that of any sane person. The Bank´s record on this topic and its strong position on numerous other environmental issues today should give you great confidence that this ridicuouos and absurd argument in no way reflects the real world of the Bank´s policies and programs.

As you must know, this has been a painful period for me. I desply regret that this has happened, and I sympathize with the concern you and others have expressede.

Sincerely, (ass) Lawrence H. Summers.

 

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