Amigos da Terra Brasil: Mais um golpe na América Latina

Declaração Pública dos Amigos da Terra Brasil sobre a conjuntura do país

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O golpe que aconteceu no Brasil neste 31 de agosto, que depôs a presidenta eleita Dilma Rouseff, faz parte de mais uma manobra colonialista na América Latina. É um golpe parlamentar e midiático. É um golpe misógino, racista e homofóbico, que coloca sobre os de baixo o peso da decisão da elite branca brasileira. Um golpe assinado pelos três poderes do Brasil: o executivo, o legislativo e o judiciário, e possibilitado pelo quarto poder, o da mídia golpista corporativa que agora impõe uma pacificação mentirosa e invisibiliza ou estigmatiza as mobilizações populares. Esse golpe explicita os limites do Estado e do voto popular. Prova que o poder econômico, no avanço da ofensiva neoliberal, não respeita o conceito e prática, também limitada, da democracia.
 
 
Os direitos conquistados na história de luta no país foram constantemente atacados por essa mesma elite que retorna ao poder de forma ilegítima. Um golpe arquitetado por setores vinculados ao agronegócio e às grandes corporações, e que vai acirrar a violação de direitos dos povos originários e do povo negro, dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade. O verdadeiro golpe e seus beneficiários são óbvios na pauta do novo governo ilegítimo e do parlamento golpista: abertura da exploração de petróleo e minérios às gigantes multinacionais responsáveis pelas mudanças climáticas e desastres ambientais, desmantelamento dos processos de licenciamento ambiental, ampliação da permissão de compra de terras por estrangeiros e vedação da demarcação de terras indígenas e quilombolas, privatização das estatais e dos serviços públicos, desmonte da legislação trabalhista, previdenciária e dos direitos das mulheres e da comunidade LGBT.
 
 
Isso não se distancia do que estão vivendo outros países da América Latina, como Honduras e Paraguai, nesta onda imperialista que vem tomando o continente. A ofensiva não é só no Brasil, pois faz parte de uma estratégia sistêmica e necessária ao grande capital financeiro. As táticas golpistas são muitos semelhantes: influências internacionais aliadas às oligarquias nacionais e à construção de um discurso midiático pautado nas acusações de corrupção. Denunciamos a farsa que é esse impeachment. Os principais atores do julgamento da presidenta são políticos acusados de corrupção. Vivemos um momento de ruptura de alianças em diversos setores, colocando em evidência as fragilidades da nossa democracia brasileira.
 
 
Durante os longos meses do processo de impeachment, a sociedade brasileira se manifestou de diversas formas, através de paralisações, ocupações, manifestações culturais. A luta foi para além da defesa de um governo, sempre foi em defesa da democracia e da soberania popular. Nossa luta seguirá se dando nas ruas e nos territórios, as últimas barricadas de resistência. Neste momento histórico, é importante a construção de uma unidade que não nos permita repetir os erros do passado e que fortaleça a resistência e a garantia de direitos. Consideramos esse governo ilegítimo e exigimos eleições gerais já. As ações de resistência que foram invisibilizadas pela mídia corporativa neste período e seguirão sendo. Por isso, a articulação e a solidariedade entre os que lutam na América Latina é fundamental. O ataque é continental, a resistência também deve ser.
 
 
Seguiremos em luta e sem medo, pela justiça ambiental, resistindo ao neoliberalismo e defendendo a soberania popular
 
 
Amigos da Terra Brasil
1 de setembro de 2016
Fonte

 

 

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