Saiba como fazer a cobertura jornalística das mudanças climáticas

Muito oportuno, em meio à tragédia no Rio Grande do Sul, lembrarmos o trabalho divulgado em 2020 e produzido por pesquisadoras da área do jornalismo ambiental — trata-se do Minimanual para a Cobertura Jornalística das Mudanças Climáticas.

O material foi desenvolvido pelos Grupos de Pesquisa Estudos de Jornalismo (UFSM) e Jornalismo Ambiental (UFRGS), com organização de Márcia Franz Amaral (UFSM), Eloísa Beling Loose (UFRGS) Ilza Maria Tourinho Girardi (UFRGS). Seu objetivo é fornecer subsídios a jornalistas e estudantes de jornalismo para uma cobertura qualificada de matérias relacionadas às mudanças climáticas.

Os textos foram revisados por: Ângela Camana, Carine Massierer, Débora Gallas, Eliege Fante, Eutalita Bezerra, Nícoli Saft e Roberto Villar Belmonte, da UFRGS; Cláudia Herte de Moraes, Elise Souza, e Juliana Motta, da UFSM.

O Projeto Gráfico e Editoração foi do Laboratório de Experimentação em Jornalismo, sob coordenação da Laura Storch e Lucas Durr Missau; projeto gráfico e editoração de Taynane Senna; ilustração de Pollyana Santoro, todos da UFSM – Universidade Federal de Santa Maria.

As partes são estas: Apresentação; Um manual para ampliar a discussão sobre as mudanças climáticas na imprensa; Por que tratar do clima em tempos de pandemia? Dez conselhos para a cobertura jornalistica das mudanças climáticasDez verbetes para compreender a questão do climaDez conceitos que cercam o temaDez questões fundamentais para pensarmos nossa realidade; e Dez fontes jornalísticas documentais sugeridas para a cobertura.

A seguir a íntegra primeira parte da publicação:

DEZ CONSELHOS PARA A COBERTURA JORNALÍSTICA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

01
PROMOVER A FREQUÊNCIA E A CONTINUIDADE DE INFORMAÇÃO QUALIFICADA SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

É necessário estabelecer seções fixas na imprensa escrita e digital, assim como na programação das rádios e televisões destinadas a abordar os temas relacionados com a sustentabilidade e as mudanças climáticas, empregando os diversos formatos e fórmulas narrativas audiovisuais existentes. Sugere-se para a elaboração de conteúdos transmídia que cheguem a todos os públicos e expliquem melhor conceitos que podem parecer complexos.

02
REFLETIR NÃO SOMENTE SOBRE OS IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS, MAS TAMBÉM SOBRE AS SOLUÇÕES

Geralmente, os meios de comunicação centram-se nas consequências, o que resulta, na maioria das vezes, em notícias com tom catastrofista. Devese abordar em similar proporção as causas e soluções, complementando o alarmismo com as alternativas existentes.
Da mesma maneira, emoções negativas (desolação, angústia e desânimo) associadas ao problema podem ter como contraponto as ressonâncias positivas (esforço, coragem e esperança) resultantes da ideia de que o desafio da crise climática pode ser visto como motor de mudanças sociais.

03
PROPICIAR UM ENFOQUE DO PROBLEMA DESDE O PONTO DE VISTA DA JUSTIÇA CLIMÁTICA

Para tanto, é preciso comunicar as dimensões humanas dos impactos, informando e favorecendo o debate desde uma perspectiva ética sobre os impactos na saúde, na economia, no acesso à água, na segurança alimentar e nos fluxos migratórios.

04
DIFUNDIR AS INICIATIVAS EMPREENDIDAS PELOS CIDADÃOS

Levando em consideração que o marco prioritário das informações sobre as mudanças climáticas é majoritariamente político, existe uma tendência de informar de “cima para baixo”, desde os governantes ou dirigentes aos governados. É necessário que os meios de comunicação visibilizem e favoreçam a difusão de iniciativas empreendidas ou lideradas de “baixo para cima”.

05
CONECTAR O FENÔMENO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS COM REALIDADES PRÓXIMAS NO ESPAÇO E TEMPO

Tal estratégia busca demonstrar que o desafio das mudanças climáticas diz respeito ao presente e não ao futuro. Assim, torna-se fundamental vincular ações individuais, locais e cotidianas aos impactos das mudanças climáticas a partir de uma perspectiva positiva, mostrando os benefícios da redução de emissões de gases de efeito estufa nas ações cotidianas, como em aspectos que envolvem o consumo e o uso de formas mais sustentáveis de transporte. Também é recomendado personalizar estes relatos com histórias da vida real. Em termos visuais, a cobertura também deve ser relacionada com aspectos sociais que envolvam a temática, como os problemas urbanos, e não apenas com ilustrações apartadas da vida das comunidades como, por exemplo, imagens de ursos polares.

06
DEFENDER UM JORNALISMO CRÍTICO E INDEPENDENTE

a. Defender um jornalismo comprometido com a veracidade, distanciado dos conteúdos pagos por empresas poluidoras que geram greenwashing (promoção de iniciativas enganosas de sustentabilidade e responsabilidade ecológica).

b. Renunciar à simetria: uma vez que a maioria da comunidade cientifica constata a gravidade, as causas e as consequências das mudanças climáticas, os meios de comunicação não precisam buscar um falso equilibrio ouvindo os cientistas negacionistas.

c. Desvelar o negacionismo no discurso econômico, político e publicitário, baseando-se na certeza cientifica existente em torno das causas, impactos e soluções do problema da mudança climática.

d. Participar de iniciativas que debatam a cobertura do tema, a formação de jornalistas e os critérios internos de abordagem das mudanças climáticas nos veículos de comunicação.

07
DIVULGAR A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA EM TORNO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Comunicar os projetos e as descobertas oriundos do campo científico de forma acessível e atrativa a diferentes públicos. Também divulgar a robustez dos informes do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (conhecido como IPCC), suas metodologias de avaliação e explicar com clareza o conteúdo deles, empregando diferentes formatos narrativos adaptados aos diferentes meios.

08
POPULARIZAR A TERMINOLOGIA ESPECÍFICA NECESSÁRIA PARA A COMPREENSÃO DO FENÔMENO

Problematizar e divulgar uma série de conceitos-chave para favorecer a transição para uma sociedade mais ecológica ou ambientalmente responsável, que permita aos cidadãos compreender a informação e os termos específicos relativos às mudanças climáticas.

09
RELACIONAR AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS COM OS EVENTOS EXTREMOS

Ainda que seja preciso evitar o alarmismo e a espetacularização na informação sobre episódios meteorológicos extremos, eles são uma oportunidade para ressaltar o quanto estão mais frequentes e violentos e, também, para explicar a diferença entre os conceitos “tempo” e “clima”.

10
INCENTIVAR A ESPECIALIZAÇÃO NAS REDAÇÕES

A fim de assegurar informações rigorosas e de qualidade sobre as mudanças climáticas, é preciso que existam profissionais para cobrir esses assuntos de forma contínua.
Os veículos devem reforçar as seções de jornalismo científico e ambiental, assim como trazer a pauta para outras editorias, com jornalistas especializados, que tenham formação transversal e permanente atualização.

Redação do Jornalista João Batista Santafé Aguiar  Assine o Canal do AgirAzul.com no WhatsApp – todas as notas publicadas aqui e algumas mais no seu celular. Link para contatos e envio de materiais para o AgirAzul

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