Em seu primeiro ano, Bolsonaro saiu incólume de toda a destruição que promoveu. Não vai parar por aí.
Artigo de Aldem Bourscheit, Jornalista (ou “espécie em extinção”)
Tempos melhores virão
A certeza que eu tenho não sei de onde vem
Mas vem, sempre vem, a transformação
Da água pro vinho, das tripas coração
Águas passadas não movem moinhos
Águas paradas também não
(Das tripas coração, Humberto Gessinger)
Quem rala pela conservação da natureza no Brasil não pode se dar ao luxo de olhar para o horizonte com “otimismo moderado”, como o mercado-sem-vergonha-na-cara avalia as manobras econômicas de Bolsonaro e seu “Posto Ipiranga”. Quem valoriza o verde da bandeira e a bicharada que nele vive deve mergulhar as barbas no molho neste segundo ano de governo de extrema-direita.
Se em tempos de certo vigor democrático vimos a Amazônia perder quase 20% de sua vegetação, uma área do tamanho do Chile, e Parques Nacionais e outras Unidades de Conservação encolherem em 30 milhões de hectares, sem contar inúmeros outros recuos na proteção de ambientes naturais em todo o país, a onda destrutiva ganha força num governo que pisoteia a Constituição sem o menor pudor.
O ano novo mal saiu do forno e o ruralista prostrado na cadeira de ministro do Meio Ambiente comparou os incêndios da Amazônia aos da Austrália e, de lambuja, bateu em ONGs e imprensa. Leviano, escondeu do rebanho que o segue que o fogo naquele país ocorreu pelas mutações do clima, enquanto que na floresta tropical foram causados por criminosos incitados por Bolsonaro e sua trupe.
Fantoche pilotado por Nabhan Garcia e Tereza Cristina, Ricardo Salles age às claras para dar cabo de Reservas Biológicas, Parques Nacionais e outras Unidades de Conservação de Proteção Integral – peças-chave para manter a vida selvagem. A ideia é cobrir essas áreas com boi, soja, mineração e outras atividades que poderiam ocupar qualquer outro espaço. Mas assim quer o setor privado paleolítico que suporta tal governo.
Não vale esquecer: Salles é um corrupto condenado pela Justiça de São Paulo por fraudar documentos em benefício de empresas do agronegócio. Mas no Brasil muitos bandidos se vestem de teflon, onde não gruda nenhuma acusação ou condenação. Ao contrário, seguem intocados e se tornam felizes membros do autoproclamado “governo anticorrupção”. Lorota maior, há de se achar.
No meio desse fuzuê, a população assiste estática a desmandos socioambientais que seriam inaceitáveis poucos anos atrás. Se as ruas não são tomadas por privação de aposentadorias, desemprego, preços de alimentos e combustíveis nas alturas, quem dirá por abstrações como proteção da biodiversidade, crise do clima, populações indígenas e tradicionais sendo dizimadas. Alta simpatia com a proteção da natureza só em pesquisas de opinião pública. Meio ambiente no Brasil é aquele supérfluo que se corta em pindaíbas econômicas.
O primeiro ano do governo proto-fascista também deixou claro que os instrumentos tradicionais de resistência não bastam para frear a barbárie político econômica. Um governo que tem como único projeto arrebentar com tudo que não espelha sua ideologia não se acanha diante de denúncias na imprensa e ações judiciais. E a chapa deve esquentar muito neste ano eleitoral, quando partidos de situação e oposição precisam posicionar suas peças para a disputa à Presidência em 2022.
Com tal bandalha encalacrada no poder, pode sobrar pouco país para se governar até lá, mas muito para se reconstruir.