Artigo: Um corpo estranho na paisagem urbana

por Lucia Mascaró*

Faz tempo que a cidade e sua “ambiência” urbana andam se estranhando.

Porto Alegre declara a intenção de erguer na Rua Duque de Caxias, no ponto mais elevado do Centro Histórico, um prédio de grande altura, uma monstruosidade arquitetônica–ambiental, não levando em consideração fatos históricos, culturais e arqueológicos, diretrizes de transformação do Plano Diretor. Será uma exceção concedida?

Há ainda o problema da sombra que produzirá no entorno construído imediato, elevando níveis de umidade, diminuindo o conforto ambiental na vizinhança.  A rua Duque de Caxias é exemplo conhecido na Academia como um ‘canyon urbano’: estreita com altos edifícios onde o Fator de Céu Visível (FCV) é baixo, ocasionando pouca incidência solar durante o dia.  A via ainda abriga uma já escassa vegetação que não contribui para a diversificação da avifauna local já que o recinto inibe o crescimento das espécies e compromete o desempenho ambiental. O regime de ventos da região também sofrerá alterações.

Será que o projeto  atende ao PPCI – Plano de Preservação e Proteção de Combate a Incêndios, que deve prever rotas de fuga difíceis de fazer e caras em prédios altos? E que nem sempre são eficientes para, por exemplo, pessoas deficientes ou idosas que não podem usá-las? Qual a altura que a escada de salvamento dos bombeiros tem em Porto Alegre? Se o projeto inclui material anti-incêndio em cada andar ou em cada sala talvez ajude a mitigar as consequências do incêndio, mas não a salvar pessoas.

Ora em discussão, a nova revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA) é uma grande oportunidade para discutir critérios para novas edificações podendo até prever mais adensamento em regiões propícias e em formatos adequados.

Caso o projeto se consolide veremos uma situação que atende as finanças de poucos em detrimento da vida de muitos.

(*) Arquiteta e Urbanista

A autora é Professora Titular aposentada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRGS. Arquiteta pela Universidad Nacional de Tucumán, Argentina. Especialista em construção industrializada na Universidade de Copenhague, Dinamarca.Possui mestrado em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990). Pós-doutorado na Universidad de Sevilha, Espanha. Consultora ad hoc da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, colaborador da Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista, colaborador – Elsevier Editorial System e professor visitante sénior da Universidade Federal de Pelotas até 03/16. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Conforto Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura, conforto ambiental, iluminação, ambiência urbana e energia. (resumo no Currículo Lattes)


É permitida a reprodução do artigo, citando-se a fonte. Contribuições para o AgirAzul.com via página de contato – www.agirazul.com/contato

Next Post

Maior instituto de pesquisas em água do Rio Grande do Sul faz recomendações urgentes contra inundações

ter set 12 , 2023
Doutores em Água. É o que são os pesquisadores do IPH-UFRGS que aconselham ao estado do Rio Grande do Sul investir imediatamente em um sistema de monitoramento, previsão e alerta para reduzir a vulnerabilidade da sociedade frente a eventos extremos que possivelmente serão intensificados em decorrência das mudanças climáticas globais. […]

Você pode gostar também:

Send this to a friend